05/12/2014 16:48 
Texto Cynthia Costa

Os ingredientes essenciais para uma autoestima saudável são o incentivo, o respeito e o apoio dos pais.

"Mas qualquer um consegue fazer isso!". Este é um comentário comum, que todo mundo já ouviu uma vez na vida, certo? Quando ouvidas por uma criança, porém, observações desse tipo podem até ser inofensivas - ou altamente prejudiciais. Isso porque é a partir da interação com os outros, a começar pelos membros da família, que ela formará uma imagem de si mesma. A construção da autoestimase dá desde bem cedo na vida de uma pessoa e terá impacto em toda a sua trajetória.

"É preciso ter zelo com o que se diz", aconselha o educador Simão de Miranda, autor do livro Afetividade e Autoestima da Criança (Editora IMEPH), entre dezenas de outras publicações. Outro ingrediente essencial para uma autoestima saudável é o modelo dos pais ou responsáveis, como ressalta o psicopedagogo e antropólogo Jon Talber: "O pensamento positivo dos pais e a forma como tratam os problemas com energia renovada e determinação, atitudes essas que se expressam de forma pedagógica dentro de casa, são um modelo extraordinário para a criança". 

A seguir, com a ajuda desses especialistas, o Educar esclarece o que é a autoestima da criança e como pais e adultos em geral podem colaborar para o seu desenvolvimento. Antes, uma observação importante: a autoestima não é alta nem baixa, ao contrário do que se costuma dizer; ela é mais ou menos saudável e equilibrada. Veja a seguir.

Para ler, clique nos itens abaixo:

1. O que é a autoestima?

Pode-se compreendê-la sob mais de um ângulo. A autoestima está relacionada, ao mesmo tempo, à identidade, à noção que temos de nós mesmos, e à autoconfiança e autossuficiência. Constrói-se a partir do nosso contato com outras pessoas, nas interações sociais. "No adulto, a autoestima é o sentimento de segurança pessoal e bem-estar íntimo que surge quando nos tornamos autossuficientes", define o psicopedagogo Jon Talber, destacando: "Já na criança, ela se desenvolve naturalmente quando os pais [ou responsáveis] a acolhem com carinho e compreensão. A sensação viva de que são amadas e importantes naquele lar; que estão em ambiente seguro e são compreendidas: eis o que significa a autoestima para uma criança". 

2. Qual é a importância da autoestima para a criança?

São muitas as importâncias, na verdade. A começar, uma criança com a autoestima saudável tem relações também mais saudáveis, pois é menos dependente - do ponto de vista emocional - dos outros. 

O psicopedagogo Jon Talber explica a ligação entre a autoestima e a inteligência: "Uma mente equilibrada e criativa, flexível e capaz de se tornar inteligente, é uma consequência natural quando a autoestima está em dia. Só uma criança motivada e plena de confiança em si mesma é capaz de descobrir a sua vocação. De posse desse raro atributo, sua futura felicidade profissional e pessoal estará assegurada".

3. Como vai a autoestima da criança?

Aqui, perguntas essenciais são: que percepção a criança tem de si mesma? E dos outros? Se ela demonstra generosidade para com os outros, é sinal de que é generosa consigo mesma. Há indicadores no comportamento dos pequenos que denunciam a quantas anda a sua autoestima. "Quando a criança possui boas relações sociais, relacionamentos equilibrados e tranquilos", aponta Simão de Miranda, "é sinal de uma autoestima equilibrada".

4. Quais são as consequências de uma autoestima desequilibrada?

A visão que se tem de si mesmo, o chamado autoconceito, é fundamental para a conquista das relações saudáveis: se o indivíduo é compreensivo consigo mesmo tenderá a sê-lo também com os outros. "Um déspota tem uma autoestima muito debilitada", exemplifica Jon Talber, lembrando, ainda, que uma autoestima fragilizada pode levar à melancolia e à depressão. "Muitos dos problemas relacionais na vida adulta podem ter começado lá atrás, na infância remota", acrescenta o educador Simão de Miranda.

5. O que NÃO fazer?

Pais, professores e outros adultos em contato com a criança devem evitar ao máximo dirigir falas depreciativas a fala, sobretudo ofensas, como "que burrice!" ou como "como você é..." (complete aqui com uma qualidade negativa). O educador Simão de Miranda esclarece que, por mais que a criança não pareça necessariamente sentir o impacto dessas falas no presente, é possível que, no futuro, elas se cristalizem e impeçam o cultivo de uma autoestima equilibrada. 

Por outro lado, a fala dos pais e professores também não deve soar artificial, complacente demais, pois a criança também é capaz de perceber isso. Espontaneidade com certo cuidado: essa seria a combinação ideal.

6. O que fazer para a criança ter uma boa autoestima?

"A criança é um sujeito com uma voz, com um direito inalienável de participar das decisões", lembra Simão de Miranda, que é doutor em psicologia. Assim, permitir que ela participe de decisões relacionadas ao dia a dia, à escola, as férias etc. colabora para a consolidação de uma autoestima saudável. Ouvir os pequenos com atenção também é fundamental, pois eles gostam de se expressar; a negligência de pais, professores e outros adultos é inimiga da autoestima da criança. 

O psicopedagogo Jon Talber lista atitudes fundamentais, que colaboram para um desenvolvimento saudável da autoestima: 

- Trate a criança com cortesia e respeito;
- Trate também os outros adultos, especialmente o seu parceiro/a sua parceira, sempre com respeito e compreensão (lembre-se: o modelo é essencial); 
- Ouça a criança com atenção e honestidade; 
- Evite ao máximo fazer comparações doentias, nas quais um modelo incomum é colocado como parâmetro; 
- Faça a criança se sentir amada e útil no dia a dia, valorizando o resultado de suas tarefas escolares e/ou de pequenas atribuições domésticas; 
- Valorize os seus feitos, mas evite elogios falsos e compensações exageradas [veja a seguir]. 

Além disso, uma prática simples, mas que é grande incentivadora da autoestima infantil é o desenho: o processo, à medida que os traços se tornam mais precisos, e a conclusão do trabalho podem se reverter em autoconfiança. "A criança enxerga a si mesma no resultado de seu trabalho, é bom que pais e educadores saibam disso", conclui Talber.

7. Faça apenas elogios sinceros!

Um comportamento aparentemente inofensivo, mas que também pode ser prejudicial ao desenvolvimento da autoestima, é o elogio sem base. "A criança pode chegar à falsa conclusão de que ela é excelente naquilo. Assim, não se aprimorará", alerta Simão de Miranda. Por exemplo: se você não acha que o desenho do seu filho ficou "lindo!", não diga isso; dê, por exemplo, uma sugestão do tipo "por que não colore mais um pouco?". Para construir a autoconfiança, a criança precisa ter uma visão realista daquilo em que se sai bem e não tão bem. Se achar que é boa em tudo, o choque de realidade - ao ser reprovada em um exame, por exemplo - pode gerar uma frustração imensa. Ou ela pode acabar ficando pouco humilde, sentindo-se "especial" demais.

8. Escola: mais companheirismo, menos competição

Em um ambiente em que as crianças são comparadas umas com as outras o tempo todo, seria um milagre que as pequeninas desenvolvessem uma autoestima saudável. "Comparar um com o outro, seja no intelecto, seja nas habilidades ou seja na aparência, é um costume bizarro e inconcebível, que deve ser descartado", afirma o psicopedagogo Jon Talber, que completa: "Sem o sentimento de companheirismo, onde os amigos não se valorizam entre si, onde ninguém compartilha de suas virtudes de forma espontânea e gratuita, onde o bem-estar de um não reflete no outro, o despertar e a potencialização da autoestima não passarão de um sonho inatingível". A competição consigo mesmo, sempre com respeito aos próprios limites e tolerante com as limitações, é o caminho sensato para o desenvolvimento de uma autoestima equilibrada. 

 Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/como-construir-autoestima-819588.shtml

Alda Marques – Coordenadora Pedagógica
Ensino Fundamental I